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domingo, 6 de fevereiro de 2011

PODIAM FICAR SEM ESSA... he, he, he, he...

PORTO SUL. PORTO SIM: UMA REALIDADE QUE NÃO PRECISA DE IMITAÇÃO.


O ator encarna personagens vestindo-os em uma roupagem bem próxima de uma realidade, para qual deve encarná-la.

O cantor canta a paz, canta o amor, canta a dor, o encanto, o desencanto, a flora, a fauna e por aí afora.

Quando o ator faz um papel de pobre ele passa fome de mentirinha, ele torna-se um desempregado de mentirinha, mora em uma favela de mentirinha, tudo é de mentirinha.

Quando o cantor canta qualquer um dos seus temas, através da maviosidade da sua voz, tenta passar sentimentos na maioria das vezes nunca por ele vividos, nem vivenciados.

A arte como arte deve ficar no mundo do inapalpável, porque é soberana e move inexplicável e indefinidamente os sentimentos que elevam e alimentam à alma e o espírito e nos servem de estímulo para continuarmos caminhando e enfrentando as dificuldades que a dura realidade do dia a dia nos oferece.

A arte nos vitamina as forças para superar e transpor obstáculos reais, vivos, duros que nos massacra, que nos faz cambalear, que nos embriaga de dor e desesperança.

Ah! se não fosse arte que nos empurra com o seu braço forte, como quem diz: vai covarde que a vida é luta e a gente respira, levanta, sacode à poeira e vai embora.

A arte nos fortalece quando aquele ator que passa fome de mentirinha, desempregado de mentirinha, residente em uma favela de mentirinha, tudo de mentirinha, consegue, no seu papel bem desempenhado, vencer todas as suas dificuldades e lá, no final da novela se torna vitorioso. Aí, a gente, cá no mundo real, passando fome de verdade, desempregado de verdade, morando em uma comunidade carente de verdade se mira no espelho daquele ator, adota a sua forma de luta como meio de sobrevivência e segue em frente, ou quando aquele cantor diz: “Vem vamos embora que esperar não é fazer”….. Isso é a arte imitando a realidade, nos impulsionando a nos proporcionar o direito de sonhar para ocupar o nosso espaço pretendido.

Quando entrevistados, a unanimidade dos artistas afirma que “ralaram” para vencer, ou seja, para sair do mundo real do sofrimento, para o mundo da imitação da realidade.

Uma coisa é imitar a realidade. A outra é viver a realidade.

Há trinta anos a mesorregião sul baiano, constituída por 70(setenta) municípios, de repente entrou em decadência. A sua população idosa à época estagnou, sofreu, morreu. A juventude desacostumada com a miséria se viu obrigada a deixar a família e buscar a sobrevivência em outros Estados e os que aqui ficaram, uns sobreviveram de biscates, outros se transformaram em alcoólatras, outros em drogados e outros endoideceram. E as crianças, sem perspectivas de futuro, hoje, jovens, em razão da ociosidade e da falta de trabalho, concluem o ensino médio e uns se vão, outros que ficam se transformam em biscateiros, em alcoólatras, em drogados. E a história se repete a cada ano.

Nesses trinta anos de decadência nunca ouvimos sequer uma palavra de conforto de Caetano Veloso, nem de Lázaro Ramos, nem de Paula Lavigne, nem de nenhum artista, em relação a miséria que assola a região do cacau. Desconhecemos um show beneficente realizado por qualquer um deles, que são Defensores das Causas Desconhecidas em favor de qualquer dos 70 municípios da mesorregião sul baiano.

Caetano, Paula, Lázaro Ramos, vocês são excelentes artistas fazendo a vida imitar a realidade. Portanto, não tentem inverter as coisas, porque vocês são péssimos tentando fazer da realidade uma mentirosa imitação da vida, pois, aqui, a nossa fome é de verdade, o desemprego é de verdade, a favelização é de verdade, a pobreza é de verdade, sim, uma verdade que contrasta com a nababesca realidade de vocês.

Aqui, a miséria não precisa ser imitada. Ela é real.

O Porto Sul é uma realidade trazida por estranhos, para acabar com os sonhos de especuladores insensíveis, que sobrevivem há trinta anos a custa da miséria de uma região, se escondendo por detrás de um falso manto e um débil argumento de defesa do Meio Ambiente.

Talvez, vocês estejam sendo bois de “expia”. Com certeza não sabem nem o que é Porto Sul.

Antes de propagandear o que não conhecem, por que vocês não vêm discutir o assunto com a população? O desafio está feito.

“Xô, xuá, cada macaco em seu galho…”

Guardaembaixo

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