Sábado, 30/10/2009

Ha pelo menos vinte anos nossa cidade tem convivido de forma intima com a palavra crise, não só a palavra, mas suas conseqüências e efeitos estão a permear a vida da cidade por todos os lados, seja nas péssimas condições da infra-estrutura publica, seja na baixíssima qualidade dos serviços e políticas ofertados aos cidadãos.

Mesmo passado mais de vinte anos da aparição da Vassoura de Bruxa, praga que arrasou a economia do Sul da Bahia, cidades como Ilhéus e Itabuna não conseguiram ainda encontrar um rumo, nem mesmo esboçar uma reação organizada e planejada que permitisse vislumbrar uma saída.

Uma das faces mais cruéis da crise regional pode ser vista no enorme numero de desempregados que perambula pelas ruas e periferia das cidades, em Ilhéus este drama é ainda mais cruel, ao analisar os números do Ministério do Trabalho disponibilizado pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), salta aos olhos o tamanho do buraco que a cidade esta, para se ter uma idéia, nos últimos quase dez anos de janeiro de dois mil a agosto de dois mil e nove, a cidade ampliou em apenas dois mil seiscentos e oitenta e oito a oferta de novos empregos, numa variação relativa de 15,59%, sobre a década anterior ao passo que o estado da Bahia no mesmo período ampliou em 49,26%.

Quando comparamos o crescimento do emprego em Ilhéus com o de outras cidades do interior da Bahia, os números são ainda mais cruéis, veja abaixo.

Geração de emprego nas principais cidades do interior da Bahia no período de janeiro de 2000 a setembro de 2009.

Cidade

Empregos gerados

2000 a 2009

Variação relativa

Total de empregadosformais

Feira de Santana

28.760

70,07

75.726

Camaçari

22.278

90,63

59.037

Vitoria da Conquista

11.532

51,17

44.110

Juazeiro

10.323

55,30

22.215

Itabuna

6.145

26,97

36.637

Eunapolis

3.964

61,97

14.341

Ilhéus

2.900

16,81

20.969

Bahia

402.727

49,26 %

1.342.235

Fonte:caged/MTE

Estes números revelam um quadro de forte decadência em Ilhéus, a cidade tornou-se a quarta maior do estado no final da década de noventa com uma população acima de duzentos e vinte mil pessoas, atrás apenas de Salvador, Feira de Santana e Vitoria da Conquista, ainda mantém esta posição, apesar de perder nos últimos anos milhares de habitantes, os números acima ajudam a entender porque Ilhéus é uma das poucas cidades do Brasil que tem crescimento negativo de sua população, estimada hoje em menos de duzentos e vinte mil moradores.

O baixíssimo crescimento da oferta de empregos em Ilhéus em contraste com a condição de quarta maior cidade do estado, tem provocado conseqüências visíveis no aumento vertiginoso da violência que atinge principalmente os jovens, homens negros de baixa formação escolar, moradores dos morros e periferia da cidade, o principal contingente dos desempregados calculado em vinte e cinco mil pessoas.

Se considerarmos que os últimos dez anos são um dos melhores períodos na geração de emprego formais no Brasil com mais de onze milhões de novas vagas formais, a situação de Ilhéus fica ainda mais complicada.

Em 2009 a situação piora

Em 2009, ouve em todo o país uma diminuição no ritmo de crescimento de empregos formais no primeiro trimestre do ano em virtude dos reflexos da crise econômica mundial, esta situação porem já foi plenamente superada no segundo trimestre do ano, com a geração de quase um milhão de novas vagas até agostos e previsão para mais de um milhão e duzentos mil até dezembro, um ano excelente apesar da crise, mesmo assim, em Ilhéus o crescimento é negativo ou seja contando de janeiro até setembro a cidade perdeu cento e vinte e seis empregos formais.

Geração de empregos formais em Ilhéus janeiro a setembro de 2009

Admissões

4.731

Demissões

4.875

Variação absoluta

-126

Variação relativa

-0,6%

Fonte: caged/MTE

O mais incrível é que apesar destes números, não existe uma só estratégia publica para reversão deste quadro, a questão do desemprego em Ilhéus não faz parte dos discursos oficiais que aparentemente ignora esta situação

É neste cenário que iniciativas como a do governo do estado e do governo federal de implantar em Ilhéus o complexo intermodal de transporte, chamado de Porto Sul aparece como uma esperança concreta para a cidade reverter os números de decadência que empurram os sonhos de uma Ilhéus desenvolvida para o buraco.

Gerson Marques